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Reflexos de nós... ( parte I )

                Quantas e quantas vezes te olhei, através daquele espelho, aquele mesmo que foi a janela indiscreta do meu desejo…a fonte desesperada da minha ilusão!
                Sem palavras, sem gestos, despiste-me o corpo e penetraste-me a alma tão intensamente através apenas da tua imagem. Tive prazer, fui mulher desejada e desejei tão loucamente que me tornei refém desse sentir.
                Foste pecado absolvido nas minhas longas noites de solidão, eu que me julguei tão próximo do céu, vi-me arrastada para o inferno que me consumia as entranhas.
                Povoaste os meus sonhos…caminhaste como vagabundo pelos meus dias…era livre para o mundo mas cada vez mais prisioneira desse meu desejo.
                Os dias iam passando e eu regressava sempre ao fim da tarde ao local onde ansiava voltar a ver-te. Passados alguns minutos, lá estavas tu a desnudar-me com o teu olhar por entre aquele espelho que nos unia, mas que em simultâneo nos mantinha afastados.
                Nunca fui capaz de te dizer fosse o que fosse, apenas comuniquei contigo através da cumplicidade que fomos alimentando, até que surpreendentemente um dia vi-te chegar até mim…envolvido em mistério e silêncio, agarraste-me na mão e nela depositaste um pequeno papel e partiste sem demais.
                Fiquei ali parada no tempo…a ver-te desaparecer por entre aqueles que partilhavam connosco o mesmo espaço e que de alguma forma, mesmo sem saberem foram coniventes dessa nossa história.
                Quando os meus olhos já não te conseguiam alcançar, olhei para a minha mão e com o coração a saltar do peito abri o papel que me deixaste. Nele apenas uma palavra rasgava a brancura, "Quero-te"…
                Li e reli vezes sem conta aquela fusão de letras em fracção de segundos, não sei o que procurava por entre elas, apenas sabia que tinha um pouco mais de ti comigo.
                Afogada pelas emoções, abandonei aquele local na esperança atormentada de te encontrar, mas tudo com que me defrontei foi com o vazio da tua ausência.

                                                                                              continua em :
                                                                                   De olhos bem fechados...


*** Ártemis ***